quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO compreendendo a educação

A análise feita a seguir é de 1999 e tem uma visão ampla sobre a educação, assim como ela exige, o que o torna plausível de estudos nos nossos dias.
Aborda nossa forma de nos relacionarmos entre nós e nossa relação com o ambiente;
trata do desenvolvimento da intelectualidade, nossa forma de nos relacionarmos com o que sabemos e o que fazemos.
Apesar de tratar a espécie humana como “homem”, consideremos que o neodesenvolvimentismo é um momento de transição social, e podemos nos focar nas idéias principais que o autor transmite e considerar o entendimento que temos sobre o gênero humano e nossa diversidade na interpretação do conteúdo.
É momento da construção coletiva da sociedade que queremos, portanto, a transição que vivenciamos é de sistema social, de onde viemos, quem somos, para onde vamos. A consciência humana é o fator determinante entre a servidão e a igualdade; entre a apatia e a atitude.
Teorizar, praticar, teorizar, praticar,...
Combater a violência com aprendizado, semeando a paz com a prática cotidiana, com a atitude de uma educação coerente com 'humanidade'. Caso contrário, é o velho disfarçado. Praticar o novo, é fazer diferente. Educação, escolarização, graduação, necessitam de significações humanizadoras, o que não ocorre hoje.


EDUCAÇÃO PARA UMA SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação para uma sociedade em transição. Campinas, SP: Papirus. 1999.

“... O ciclo do conhecimento, isto é, sua geração, organização intelectual e social, e difusão, pode ser sintetizado no esquema:
a realidade (entorno natural e cultural) informa (estimula, impressiona)
indivíduos e povos que em conseqüência geram conhecimento
para explicar, entender, conviver com a realidade,
e que é organizado intelectualmente,
comunicado e socializado, compartilhado e organizado socialmente,
e que é então expropriado pela estrutura de poder,
institucionalizado como sistemas (normas, códigos),
e mediante esquemas de transmissão e de difusão,
é devolvido ao povo mediante filtros (sistemas)
para sua sobrevivência e servidão ao poder.”
“Embora o contínuo da vida seja reconhecido no comportamento de todas as espécies animais, nas espécies homo há mecanismos mais sofisticados de captação de informações e de processamento dessas informações. Sua ação modifica a realidade por meio de mentefatos que são acumulados numa memória e recuperados na definição de estratégias de ação. Eles têm consciência das conseqüências de sua ação.”
“Desde seu aparecimento no planeta, a espécie homo sapiens tem seu comportamento impulsionado por duas grandes forças: a sobrevivência, sua e de toda a espécie - e isso é característico de qualquer espécie viva -, e a transcendência - que não se nota em qualquer outra espécie.”
“A transcendência manifesta-se no culto aos mortos e à fertilidade, nos rituais religiosos, nas artes e nos rituais de iniciação. A sobrevivência vai se impregnando de transcendência. O homem integral é o ser em busca da sobrevivência associada à transcendência. Dessa busca surgem as culinárias, as bebidas, o pastoreio e a agricultura, todos com óbvias conotações religiosas. A espécie adquire poder sobre a natureza e poder sobre o outro indivíduo. O poder surge no momento em que sobrevivência e transcendência se mesclam.”
“O conhecimento é algo gerado, organizado e difundido e é difícil negar que essas três fases de sua elaboração não podem ser estudadas separadamente. O conhecimento, nessas três fases, mostra várias dimensões: sensorial, intuitiva, emocional, racional, que igualmente não podem ser separadas. Esse é o princípio holístico que orienta minhas reflexões sobre conhecimento.”
“A história da espécie humana é dominada pela evolução de sistemas de normas e códigos e instrumentos de correção e punição. Assim distinguimos em todas as sociedades uma classe de excluídos. E, conseqüentemente, uma classe de privilegiados.”
“Tudo deve resultar para o bem dos bons, quer dizer, dos que estão satisfeitos neste grande Estado, confiantes na Providência depois do cumprimento do dever, amando e imitando, como é devido, o Autor de todo o bem, alegrando-se na reflexão de suas perfeições.”
...
“Chamo ético o indivíduo que no seu comportamento incorpora o conhecimento de si próprio, de sua inserção na sociedade, de suas responsabilidades planetárias e de sua essencialidade cósmica.”
...
“A educação tradicional pretende cuidar prioritariamente do intelecto, como nada tendo a ver com as funções vitais. E, graças a isso, que se firmou na filosofia ocidental desde Descartes, dicotomiza-se o comportamento do ser humano entre corpo e mente, entre matéria e espírito, entre saber e fazer, entre trabalho intelectual e manual. Desenvolve-se a partir de então, teorias de aprendizagem que distinguem um saber/fazer repetitivo do saber/fazer dinâmico, privilegiando o repetitivo. Há expectativas de resultados que respondem ao padrão e que vêm priivilegiar o saber como conhecimento e o fazer como produção. Ora, a produção é confrontada com o padrão por controle de qualidade e o conhecimento por avaliação. Na verdade, ambos estão na mesma categoria de confronto com um padrão e são estáticos e inibidores.”
“Para satisfazer as necessidades básicas de aprendizado de todos é necessário mais que uma reafirmação do compromisso com a educação básica como já existe. O que se necessita é que, além de realizar o melhor nas práticas atuais, ofereça uma "visão ampliada" dos recursos atuais, das estruturas institucionais, dos currículos, e dos sistemas de difundir informação.”
“Na proposta ética se revela o rumo que um indivíduo pretende dar à sua vida e o que se espera de uma sociedade. Na ética se revelam os sonhos dos indivíduos e da sociedade... baseio minha proposta numa ética que repousa sobre
respeito, solidariedade e cooperação.
Acredito ser a problemática da paz o centro de nossas reflexões sobre o futuro. Mas violações da paz não se resumem em confrontos militares, que são as guerras. Na verdade, a paz é um conceito multidimensional. Nosso objetivo é atingir um estado de paz total, sem o que o futuro da humanidade está comprometido.
Por paz total entendemos a paz nas suas várias dimensões:
. paz interior: estar em paz consigo mesmo;
. paz social: estar em paz com os outros;
. paz ambiental: estar em paz com as demais espécies e com a natureza em geral;
. paz militar: a ausência de confronto armado.”
“A proposta é a ética da diversidade:
respeito pelo outro com todas as suas diferenças;
solidariedade com o outro na satisfação das necessidade de sobrevivência e transcendência;
cooperação com o outro na preservação do patrimônio natural e cultural comum.”
Intimamente relacionada a ética está a questão ambiental. Lamentavelmente, no processo de globalização que se intensificou no período das grandes navegações e conseqüente conquista e colonização, impôs-se um modelo urbano que pouco respeitou as condições ambientais.”
“Acredito ser a espiritualidade um dos pontos críticos dos sistemas educacionais. Fortes interesses levaram a nova LDB - Lei No. 9.475 de 22/07/1997, que dá nova redação ao Art. 33 da Lei no. 9.394 de 20/12/1996 - a incluir Ensino Religioso. Lamentavelmente, não aparece como espiritualidade e pode levar a interpretações equivocadas.” (...) “... em todas as escolas e em todas as formas de educação, o ensino religioso deveria ser focalizado na espiritualidade, num sentido amplo, e ter como meta a paz, na sua pluridimensionalidade: paz interior, paz social, paz ambiental e, conseqüentemente, paz militar.”
...
“Conhecimento é o conjunto de meios para sobrevivência e transcendência gerados por indivíduos, coletivizados e acumulados no curso da história.”
Cultivar a imaginação é cultivar a capacidade de dar sentido e significado às coisas. A vida humana não é o transcorrer monótono de sua rotina; a vida humana é, sobretudo, a sublime inquietação de conhecer e de fazer.”
“Reduzir a importância da escola à preparação dos indivíduos para se integrarem no sistema de produção é de um primarismo inadmissível. Seria necessário reconhecer que a escola tem tido como objetivo maior moldar futuros consumidores de uma produção irresponsável e interesseira.”
“O problema fundamental é entender a relação entre o indivíduo e o seu comportamento, isto é, entre o ser (substantivo) e o ser (verbo).”
Leia a postagem completa de Nilton Bruno Tomelin:
http://niltonbrunotomelin.blogspot.com.br/2008/08/dambrsio-ubiratan-educao-para-uma.html

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