quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

"A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE", POR QUÊ? PRA SEMPRE?

A esperança é mesmo estranha... Diz-se ser boa, mas sua existência identifica a insatisfação, uma falta. Por que seria boa? Para justificar uma vida sem solução? “A esperança é a última que morre”. Então ela tem sempre que existir? A existência da esperança é boa pra quem? Eis uma algema, invisível, que nos envolve e domina nossas ações e pensamentos. Não ter esperança seria a plenitude, uma paz extrema? Ou o completo desespero, descrença na vida? Como seria o “sem esperança”? Se houvesse integração completa com o ambiente, se funcionasse o racional humano não egoísta, realmente sustentável, por que haveria de existir a esperança?
Uma língua escravizada domina a emoção e induz ao irracional, ao pensar e ao agir irracionais. Afinal, uma sociedade existe na união em prol do coletivo de toda a sociedade.  Ser sócio é participar com; é ter direito à vida nela, divisões das responsabilidades. Mas a sociedade humana está diferente, premedita a dor e eterniza a esperança. Que coisa, não? Esta sociedade recriou os significados das palavras; ser “humano” seria ser solidário? Onde está a humanidade? As ações não correspondem à teoria; ou se modificam as ações, ou a teoria, para haver sentido os discursos vazios dos oradores do modelo de vida da nossa sociedade. Se fosse racional, por que nos definiríamos como ‘humanos’? Coerente definirmo-nos como ‘ser suicida’, ou ‘genocida’, ou ‘sabe-se lá o quê’... Ou poderíamos ser considerados humanos mesmo, se a nossa sociedade funcionasse de outra forma.
Sempre há tempo para novas atitudes, premeditadas, para nós, humanos. Inclusive podem ser atitudes que não causem sofrimento ao meio que nos acolhe, que não maltratem. Somos capazes!  A não ser que a esperança seja a última a morrer, sempre. Enquanto isso até a pré ocupação tem seu espaço, eterniza a espera... esperança...     (Mônica Gonçalves)


"Aos olhos dos índios, os oriundos do mar oceano pareciam aflitos demais. Por que se afanavam tanto em seus fazimentos? Por que acumulavam tudo, gostando mais de tomar e reter do que de dar, intercambiar? Sua sofreguidão seria iverossímil se não fosse tão visível o empenho de juntar toras de pau vermelho, como se estivessem condenados, para sobreviver, a alcançá-las e embarcá-las incansavelmente? Temeriam eles, acaso, que as florestas fossem acabar e, com elas, as aves e caças? Que os rios e o mar fossem secar, matando os peixes todos?

                Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar os seus arabutan. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (francesees e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
               Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? _ Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem megociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. _ Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? _ Sim, disse eu, morre como os outros.
               Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? _ Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. _ Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados" (Léry 1960: 151-61)

Ribeiro, Darcy / O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil / São Paulo: Companhia das Letras, 2006 - p.41,42 / 7ª reimpressão

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