Afinal, que música é esta, de onde veio, por que tem que ser esta, quem impôs esse ritmo?
Aos que se aderiram ao "gosto" alheio, ou gostam do ritmo, ou da letra; ou, não conhecem sua própria história, ou, não se percebem na história... Será que não há mais audição?
"João, cadê o chão? João, que privilégio estar contigo..."
“ (...) Quando nos voltamos para a história da universidade, para
o seu passado, o objetivo é sempre a compreensão do presente. Mesmo no
historiador profissional, que almeja uma visão a mais objetiva possível do
passado, descomprometida com qualquer outra meta além do conhecimento, a
atualidade, sendo sempre o lugar de onde fala e a partir de onde se dirige ao
passado, não pode deixar de aparecer como critério orientador e, mesmo, de
termo de medida da compreensão que se pretende alcançar. Isso está presente em
todos os estudos sobre a universidade, desde os historicamente mais abrangentes
até os mais pontuais, e a causa disso é simplesmente a impossibilidade de nos
desligarmos do nosso presente. Ora, para considerar todas as conseqüências
dessa impossibilidade, é importante compreender o presente como o estágio
transitório entre a carga do passado e a expectativa do futuro. Assim, a
valorização do presente coincide, queiramos ou não, com a sua extrema
relatividade. E isso pela mera razão de que os indivíduos e as instituições são
produtos históricos envolvidos no processo de construção de outros produtos
históricos. Se essa transitoriedade histórica nos constitui e constitui tudo
que fazemos, a precaução elementar, tantas vezes repetida, é a de evitar a
consideração do que somos e do que fazemos, de nossas ações e de seus
resultados, como absoluto. Sendo a produção histórica de nós mesmos e de nossas
instituições um processo, não cabe entendê-la como natural e inevitavelmente
dada.(...)
(...) não há nada mais
comum do que confundir, nas análises que se fazem da universidade, processo
histórico e natureza dada, transitoriedade do tempo e natureza essencial da
instituição. Isso não significa propriamente ignorar a relatividade histórica
da universidade tal como a temos; todos provavelmente concordariam que ela é um
produto histórico. Mas o que se deixa de relativizar é o percurso histórico que
levou a um determinado perfil assumido pela instituição. Esse, principalmente
nos tempos atuais, é visto em suas linhas gerais como inevitável, natural e
necessário. E assim, esbarramos na contradição existente entre a consideração
de um processo histórico contingente e o advento de instituições e de
organizações que necessariamente devem ser como são. E isso muitas vezes leva a
confundir a idéia de universidade vigente com a idéia própria de universidade.(...)
(...) Certamente é uma contradição entender que o progresso
consiste na manutenção e aprofundamento do que já existe. Mas assim como os
fundadores da modernidade não puderam ver as oposições e as contradições
internas ao passado histórico, assim também nós, que fazemos a experiência da
modernidade como enaltecimento do presente, não podemos – e não queremos – ver
as oposições e as contradições internas à nossa experiência. (...) Crer no
progresso e utilizá-lo como justificativa é uma estratégia para viver o
presente e projetar o futuro com relativa segurança, pelo menos até que
tenhamos de enfrentar o desmentido do progresso por parte dos próprios fatos
que acreditávamos engendrados por ele.(...)
(...) A tentativa de criação, que passa por inumeráveis
contradições, de um modo novo de construir o saber e os critérios de conduta
social e histórica. E na realização dessa tarefa, o confronto com a tradição,
com o presente, com o poder, com as outras instituições e com todas as
injunções e contingências que pesam sobre a teoria e a prática. (...)
(...) Por isso, não podemos partir de uma realidade dada, cuja
própria consolidação já apontaria os caminhos do futuro, em inelutável
continuidade com o presente. Essa aceitação significaria trair algo que está no
próprio núcleo do trabalho universitário: se não colocamos a própria
universidade em questão, que sentido teria colocar em questão qualquer outra
coisa a partir da universidade, isto é, a partir de uma certa inserção
histórica e cultural que se expressa numa determinada maneira de investigar, de
criticar, de conhecer e mesmo de propor condutas? (...)
(...) O que a universidade menos procura é redefinir-se; busca,
isso sim, o meio mais adequado de aplicar a si mesma uma definição construída
pelo tempo histórico e por um conjunto de idéias que se constitui pela exclusão
de tudo aquilo que a universidade já instituiu e preservou como valor, ao longo
de sua história. O procedimento pelo qual a universidade se redefine
contemporaneamente coincide inteiramente com a sua adaptação às exigências do
tempo histórico: mercado, tecnociência, organização eficaz e tecnicismo
produtivista. A partir dessa pauta imposta de fora, a universidade busca
refazer a sua identidade através de um processo de desinstitucionalização. Tudo
o que a universidade precisa fazer é recusar o que tem sido para tornar-se o
que o tempo histórico lhe impõe como um dever-ser. Nesse processo de desinstitucionalização
se inscrevem vários fenômenos imediatamente presentes, tais como heteronomia
(absorção de critérios extrínsecos como paradigmas do modo de ser, da
organização e da gestão da universidade), a privatização (assimilação dos
mecanismos neoliberais de destruição da esfera pública) e subordinação ao
mercado (entronização de critérios ligados ao tecnocratismo economicista). Tais
exemplos configuram o quadro da adaptação, que seria ao mesmo tempo o abandono do perfil institucional em
prol do perfil organizacional. (...)
Franklin Leopoldo e Silva é professor titular do
Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da Universidade de São Paulo. @ – franklin@usp.br
Conferência feita pelo autor em 12 de abril de 2005 no Instituto de Estudos Avançados da USP, dentro da Temática Semestral "Os Desafios do Ensino Superior no Brasil", realizada de novembro de 2004 a abril de 2005.
Conferência feita pelo autor em 12 de abril de 2005 no Instituto de Estudos Avançados da USP, dentro da Temática Semestral "Os Desafios do Ensino Superior no Brasil", realizada de novembro de 2004 a abril de 2005.
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