quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

"A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE", POR QUÊ? PRA SEMPRE?

A esperança é mesmo estranha... Diz-se ser boa, mas sua existência identifica a insatisfação, uma falta. Por que seria boa? Para justificar uma vida sem solução? “A esperança é a última que morre”. Então ela tem sempre que existir? A existência da esperança é boa pra quem? Eis uma algema, invisível, que nos envolve e domina nossas ações e pensamentos. Não ter esperança seria a plenitude, uma paz extrema? Ou o completo desespero, descrença na vida? Como seria o “sem esperança”? Se houvesse integração completa com o ambiente, se funcionasse o racional humano não egoísta, realmente sustentável, por que haveria de existir a esperança?
Uma língua escravizada domina a emoção e induz ao irracional, ao pensar e ao agir irracionais. Afinal, uma sociedade existe na união em prol do coletivo de toda a sociedade.  Ser sócio é participar com; é ter direito à vida nela, divisões das responsabilidades. Mas a sociedade humana está diferente, premedita a dor e eterniza a esperança. Que coisa, não? Esta sociedade recriou os significados das palavras; ser “humano” seria ser solidário? Onde está a humanidade? As ações não correspondem à teoria; ou se modificam as ações, ou a teoria, para haver sentido os discursos vazios dos oradores do modelo de vida da nossa sociedade. Se fosse racional, por que nos definiríamos como ‘humanos’? Coerente definirmo-nos como ‘ser suicida’, ou ‘genocida’, ou ‘sabe-se lá o quê’... Ou poderíamos ser considerados humanos mesmo, se a nossa sociedade funcionasse de outra forma.
Sempre há tempo para novas atitudes, premeditadas, para nós, humanos. Inclusive podem ser atitudes que não causem sofrimento ao meio que nos acolhe, que não maltratem. Somos capazes!  A não ser que a esperança seja a última a morrer, sempre. Enquanto isso até a pré ocupação tem seu espaço, eterniza a espera... esperança...     (Mônica Gonçalves)


"Aos olhos dos índios, os oriundos do mar oceano pareciam aflitos demais. Por que se afanavam tanto em seus fazimentos? Por que acumulavam tudo, gostando mais de tomar e reter do que de dar, intercambiar? Sua sofreguidão seria iverossímil se não fosse tão visível o empenho de juntar toras de pau vermelho, como se estivessem condenados, para sobreviver, a alcançá-las e embarcá-las incansavelmente? Temeriam eles, acaso, que as florestas fossem acabar e, com elas, as aves e caças? Que os rios e o mar fossem secar, matando os peixes todos?

                Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar os seus arabutan. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (francesees e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
               Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? _ Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem megociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. _ Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? _ Sim, disse eu, morre como os outros.
               Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? _ Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. _ Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados" (Léry 1960: 151-61)

Ribeiro, Darcy / O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil / São Paulo: Companhia das Letras, 2006 - p.41,42 / 7ª reimpressão

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O GOSTO PELA CONTRARIEDADE, UM NOVO FENÔMENO SOCIAL DO SISTEMA CAPITALISTA

não é incrível??
Interessante a mais nova denominação para insatisfação quanto à desumanização no mundo atual: “gosto de contrariar”. Então somos milhares de famintos (com produção suficiente para alimentar duas vezes e meia toda a população mundial), temos governos corruptos que são subservientes ao capital especulativo (grandes empresas = número ínfimo da população), outro tanto da população (a maioria) fazem parte do senso comum estagnado, do trabalho para casa, da casa para o trabalho, os meios de desinformação regulam os “gostos”, padronizam o que é “normal”,... e vendo isso tudo e mais um pouco ainda existe quem acredite que o gosto é algo definido pelo senso comum. Estranho à realidade vivida aqui no Pampa, lugar onde é possível admirar tanto a paisagem bela, quanto a paisagem feia; tanto a acolhida, quanto o desprezo; tanto as facilidades dos bons sentimentos que o ar puro traz, quanto as dificuldades que este modelo de sociedade impõe.
Não é admissível que, no mundo atual, no extremo que se vive entre um campo empurrando as pessoas para "fora" e centros urbanos cada vez mais favelizados, se considere como 'gosto' a luta, a vontade e o direito de ter direitos iguais, de viver, de ter saúde. É uma questão de diferenças entre classes sociais, não é uma questão de gosto. É uma questão de justiça (se é que exista esta qualidade no humano, prefiro acreditar que sim) social, não de gosto. Aceitar o gosto pela diferença social é admitir que as desigualdades sempre existirão, o que está fora de questão quando o que se discute é a (des) humanização de uma sociedade. Impor o gosto do senso comum como forma de coerção é coisa da mídia, pois, melhor que fale sozinha. A natureza fala a todo instante sobre gostos, poucos querem ouvir. E ainda há quem acredite que este modelo educacional não merece uma revolução. Ora, atitude é realmente algo raro neste espetáculo.
Um modelo sócio-econômico que conta com uma mídia poderosa, onde a história da labuta acarreta conseqüências sérias ao cérebro humano há séculos e onde o comodismo é o fator primordial aos que não percebem (não querem perceber) a violência deitada na calçada, há de ser contrariado! Gosto é mais que isto. Gosto não é imposto. Ninguém vai morar na cidade porque gosta. Ninguém fica doente porque gosta. Ninguém está insatisfeito porque gosta de estar insatisfeito. Alguéns acreditam em uma educação que parta da humanização, que aconteça pela transformação individual e que transborde para o meio, que saia de dentro do lar, da família. Gosto pela vida é contrariar a ordem social dividida por classes, que gera morte física e mental. Isto é lutar pelo que gosta. E o cotidiano de cada um é que constrói o coletivo humanizado, portanto, façamos da nossa vida uma estrada florida. A estrada, o movimento; as flores, as cores que damos à viagem da vida.  Caminhar com os próprios pés é uma opção, quando se sabe que isso é possível. Para gostar de caminhar, basta querer.
(Mônica Goncçalves)
Quem forma o nosso “gosto”?
O linguista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a ate...
nção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas
distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranquilas')”.


2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.


4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.


5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)”.


6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…


7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranquilas’)”.


8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…


9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!


10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

sábado, 15 de setembro de 2012

SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO II compreendendo a sociedade


Os conhecimentos que temos hoje e o que fazemos com eles nos faz responsáveis pela nossa realidade. Considerando que o objetivo deste é a reflexão sobre a nossa realidade, menciono alguns estudos em diversas áreas que interferem no nosso comportamento e, conseqüentemente, na educação. A realidade vista sobre êxodo rural, violência, pobreza, miséria, fome, guerras, podem ser interpretadas de outra forma além da materialidade que estas palavras significam. A nossa psique é agredida a todo instante, com o verbo, com a escassez, com doenças. A saúde balança no reflexo das nossas ações como sociedade humana no ambiente onde vivemos, o planeta Terra. Isto é fato.
Como agir individualmente? Como agir coletivamente? Nossas ações individuais interferem no coletivo, não só do humano, mas também na biodiversidade que nos cerca.
Que sistema social é este que vivemos hoje? 
Para contribuir nas reflexões que o momento histórico latino e global exige, seguem algumas sugestões para podermos ampliar o debate, dialogando com tantas e tantas pesquisas já feitas, opiniões, filosofias.
Sigamos no processo de transformação por uma sociedade igualitária socialmente, com respeito às diferenças culturais, às culturas alternativas, onde a liberdade parta da existência social para o coletivo biodiverso planetário.
Estas são sugestões, mas existe uma infinidade de experiências a serem partilhadas e podemos encontrá-las em livros, nos jornais, na internet,...
(Mônica Gonçalves)

 CAPITALISMO, ESTADO E EDUCAÇÃO

“(...) A problematização dos desdobramentos da mundialização do capital colocam dificuldades, desafios e possibilidades para a educação e a formação humana. Questiona-se a sua relevância e seus princípios. Vozes apressadas decretam a sua falência por não atender aos interesses restritos do mercado. Vozes progressistas enfatizam a sua centralidade, dando ênfase à sua dimensão pública como estratégia para, por meio do Estado, atingir o povo. Essas são questões que incentivam o conjunto de trabalhos que apresentamos a seguir, apontando pressupostos para uma análise crítica da sociedade.(...)”
PORTAL TRABALHO, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE  Responsável – Carlos Lucena – PPGED/FACED/UFU

Neoliberalismo, sistema educacional e trabalhadores em educação no Brasil
Armando Boito Jr.
Professor Livre-Docente de Ciência Política da Unicamp

A má educação
 “O desempenho não é o mais importante, deve haver um objetivo a atingir. O importante são os objetivos pessoais e apreciar o processo em harmonia, o crescimento e a aventura de progredir. Em sala de aula não deve haver nenhuma hierarquia, senão se transforma em uma jaula. O professor não é superior ou tem o direito de dar ordens, é um companheiro, um guia que promove a democracia, a autonomia, a diversidade.
O sistema de qualificações não funciona. O esquema é de auto-profecias cumpridas. A pedagogia é uma ciência social que não pode ser medida numericamente. Avaliação é um processo.
_ Os valores não são para ser ensinados, mas para ser vividos. A cognição de valores e conhecimento é baseada em emoções, a melhor maneira de educar é pelo exemplo.
_ As lutas de poder e a competitividade causam danos para a criança. Há que democratizar a sala de aula. Torná-la um lugar participativo, cheio de paz.”
“A essência de uma educação na área de humanas, eliminadas todas as bobagens e patacoadas que vêm junto, deveria contemplar o seguinte ensinamento: como percorrer uma confortável, próspera e respeitável vida adulta sem já estar morto, inconsciente, escravizado pela nossa configuração padrão – a de sermos singularmente, completamente, imperialmente sós”
Leonardo Foletto

Classes Sociais
 “(...) Numa sociedade organizada, não basta a constatação da consciência social para a manutenção da ordem, pois a existência social é que determina a consciência. (...)”
Orson Camargo (graduado em Sociologia e Política e mestre em Sociologia) Colaborador Brasil Escola

A Classe Dominante
“A classe dominante foi concebida pela modernidade como uma classe exploradora. Como explicou Marx, a revolução burguesa tinha muitas vantagens – nomeadamente ao nível do aumento geométrico das forças produtivas – e tinha as suas limitações – as relações sociais de produção exploradoras (apropriação privada do trabalho social) que impediam o pleno desenvolvimento de tais forças produtivas.
Na medida em que excluíam os trabalhadores dos benefícios potenciais dos novos modos de produzir (a fábrica e os sistemas industriais). Sabemos hoje como a exploração da natureza também nos pode conduzir a situações difíceis de insustentabilidade. (...)”
António Pedro Dores

A Intelectualidade como Classe Social
“Os intelectuais sempre tiveram uma posição privilegiada no interior da divisão social do trabalho. Historicamente, os intelectuais, ou “ideólogos”, segundo expressão de Marx e Engels (2002), surgiram a partir da expansão da divisão social do trabalho e sempre estiveram ao lado da classe dominante. (...) trata-se de uma classe social que ocupa determinado papel no processo de reprodução da sociedade e privilégios derivados disto. (...) A definição do salário dos intelectuais está ligada, por um lado, ao custo de reprodução desta força de trabalho específica e, por outro, às suas ligações com o Estado capitalista e demais instituições da sociedade burguesa, isto é, por sua utilidade para os interesses da classe dominante. É claro que juntamente com isto está o poder de pressão dos intelectuais, isto é, a luta de classes, bem como a hierarquia no interior desta classe social, já que no capitalismo a complexificação da divisão social do trabalho cria inúmeras subdivisões no interior das classes sociais. A função dos intelectuais é produzir e/ou reproduzir determinados saberes que são de interesse daqueles que detém o poder.”
“(...) Uma ideologia, uma vez produzida, passa a legitimar as relações sociais existentes, cumpre o papel de naturalizá-la e universalizá-la, sob uma forma também considerada legítima, a forma científica, filosófica, teológica.(...)”
Nildo Viana, Doutor em Sociologia

CRIANÇA, A ALMA DO NEGÓCIO
Um documentário sobre publicidade, consumo e infância
Sinopse: "Por que meu filho sempre me pede um brinquedo novo? Por que minha filha quer mais uma boneca se ela já tem uma caixa cheia de bonecas? Por que meu filho acha que precisa de mais um tênis? Por que eu comprei maquiagem para minha filha se ela só tem cinco anos? Por que meu filho sofre tanto se ele não tem o último modelo de um celular? Por que eu não consigo dizer não? Ele pede, eu compro e mesmo assim meu filho sempre quer mais. De onde vem este desejo constante de consumo?" Este documentário reflete sobre estas questões e mostra como no Brasil a criança se tornou a alma do negócio para a publicidade. A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falam diretamente com elas. O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumes. Num jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada. Contundente, ousado e real, este documentário escancara a perplexidade deste cenário, convidando você a refletir sobre seu papel dentro dele e sobre o futuro da infância.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO compreendendo a educação

A análise feita a seguir é de 1999 e tem uma visão ampla sobre a educação, assim como ela exige, o que o torna plausível de estudos nos nossos dias.
Aborda nossa forma de nos relacionarmos entre nós e nossa relação com o ambiente;
trata do desenvolvimento da intelectualidade, nossa forma de nos relacionarmos com o que sabemos e o que fazemos.
Apesar de tratar a espécie humana como “homem”, consideremos que o neodesenvolvimentismo é um momento de transição social, e podemos nos focar nas idéias principais que o autor transmite e considerar o entendimento que temos sobre o gênero humano e nossa diversidade na interpretação do conteúdo.
É momento da construção coletiva da sociedade que queremos, portanto, a transição que vivenciamos é de sistema social, de onde viemos, quem somos, para onde vamos. A consciência humana é o fator determinante entre a servidão e a igualdade; entre a apatia e a atitude.
Teorizar, praticar, teorizar, praticar,...
Combater a violência com aprendizado, semeando a paz com a prática cotidiana, com a atitude de uma educação coerente com 'humanidade'. Caso contrário, é o velho disfarçado. Praticar o novo, é fazer diferente. Educação, escolarização, graduação, necessitam de significações humanizadoras, o que não ocorre hoje.


EDUCAÇÃO PARA UMA SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação para uma sociedade em transição. Campinas, SP: Papirus. 1999.

“... O ciclo do conhecimento, isto é, sua geração, organização intelectual e social, e difusão, pode ser sintetizado no esquema:
a realidade (entorno natural e cultural) informa (estimula, impressiona)
indivíduos e povos que em conseqüência geram conhecimento
para explicar, entender, conviver com a realidade,
e que é organizado intelectualmente,
comunicado e socializado, compartilhado e organizado socialmente,
e que é então expropriado pela estrutura de poder,
institucionalizado como sistemas (normas, códigos),
e mediante esquemas de transmissão e de difusão,
é devolvido ao povo mediante filtros (sistemas)
para sua sobrevivência e servidão ao poder.”
“Embora o contínuo da vida seja reconhecido no comportamento de todas as espécies animais, nas espécies homo há mecanismos mais sofisticados de captação de informações e de processamento dessas informações. Sua ação modifica a realidade por meio de mentefatos que são acumulados numa memória e recuperados na definição de estratégias de ação. Eles têm consciência das conseqüências de sua ação.”
“Desde seu aparecimento no planeta, a espécie homo sapiens tem seu comportamento impulsionado por duas grandes forças: a sobrevivência, sua e de toda a espécie - e isso é característico de qualquer espécie viva -, e a transcendência - que não se nota em qualquer outra espécie.”
“A transcendência manifesta-se no culto aos mortos e à fertilidade, nos rituais religiosos, nas artes e nos rituais de iniciação. A sobrevivência vai se impregnando de transcendência. O homem integral é o ser em busca da sobrevivência associada à transcendência. Dessa busca surgem as culinárias, as bebidas, o pastoreio e a agricultura, todos com óbvias conotações religiosas. A espécie adquire poder sobre a natureza e poder sobre o outro indivíduo. O poder surge no momento em que sobrevivência e transcendência se mesclam.”
“O conhecimento é algo gerado, organizado e difundido e é difícil negar que essas três fases de sua elaboração não podem ser estudadas separadamente. O conhecimento, nessas três fases, mostra várias dimensões: sensorial, intuitiva, emocional, racional, que igualmente não podem ser separadas. Esse é o princípio holístico que orienta minhas reflexões sobre conhecimento.”
“A história da espécie humana é dominada pela evolução de sistemas de normas e códigos e instrumentos de correção e punição. Assim distinguimos em todas as sociedades uma classe de excluídos. E, conseqüentemente, uma classe de privilegiados.”
“Tudo deve resultar para o bem dos bons, quer dizer, dos que estão satisfeitos neste grande Estado, confiantes na Providência depois do cumprimento do dever, amando e imitando, como é devido, o Autor de todo o bem, alegrando-se na reflexão de suas perfeições.”
...
“Chamo ético o indivíduo que no seu comportamento incorpora o conhecimento de si próprio, de sua inserção na sociedade, de suas responsabilidades planetárias e de sua essencialidade cósmica.”
...
“A educação tradicional pretende cuidar prioritariamente do intelecto, como nada tendo a ver com as funções vitais. E, graças a isso, que se firmou na filosofia ocidental desde Descartes, dicotomiza-se o comportamento do ser humano entre corpo e mente, entre matéria e espírito, entre saber e fazer, entre trabalho intelectual e manual. Desenvolve-se a partir de então, teorias de aprendizagem que distinguem um saber/fazer repetitivo do saber/fazer dinâmico, privilegiando o repetitivo. Há expectativas de resultados que respondem ao padrão e que vêm priivilegiar o saber como conhecimento e o fazer como produção. Ora, a produção é confrontada com o padrão por controle de qualidade e o conhecimento por avaliação. Na verdade, ambos estão na mesma categoria de confronto com um padrão e são estáticos e inibidores.”
“Para satisfazer as necessidades básicas de aprendizado de todos é necessário mais que uma reafirmação do compromisso com a educação básica como já existe. O que se necessita é que, além de realizar o melhor nas práticas atuais, ofereça uma "visão ampliada" dos recursos atuais, das estruturas institucionais, dos currículos, e dos sistemas de difundir informação.”
“Na proposta ética se revela o rumo que um indivíduo pretende dar à sua vida e o que se espera de uma sociedade. Na ética se revelam os sonhos dos indivíduos e da sociedade... baseio minha proposta numa ética que repousa sobre
respeito, solidariedade e cooperação.
Acredito ser a problemática da paz o centro de nossas reflexões sobre o futuro. Mas violações da paz não se resumem em confrontos militares, que são as guerras. Na verdade, a paz é um conceito multidimensional. Nosso objetivo é atingir um estado de paz total, sem o que o futuro da humanidade está comprometido.
Por paz total entendemos a paz nas suas várias dimensões:
. paz interior: estar em paz consigo mesmo;
. paz social: estar em paz com os outros;
. paz ambiental: estar em paz com as demais espécies e com a natureza em geral;
. paz militar: a ausência de confronto armado.”
“A proposta é a ética da diversidade:
respeito pelo outro com todas as suas diferenças;
solidariedade com o outro na satisfação das necessidade de sobrevivência e transcendência;
cooperação com o outro na preservação do patrimônio natural e cultural comum.”
Intimamente relacionada a ética está a questão ambiental. Lamentavelmente, no processo de globalização que se intensificou no período das grandes navegações e conseqüente conquista e colonização, impôs-se um modelo urbano que pouco respeitou as condições ambientais.”
“Acredito ser a espiritualidade um dos pontos críticos dos sistemas educacionais. Fortes interesses levaram a nova LDB - Lei No. 9.475 de 22/07/1997, que dá nova redação ao Art. 33 da Lei no. 9.394 de 20/12/1996 - a incluir Ensino Religioso. Lamentavelmente, não aparece como espiritualidade e pode levar a interpretações equivocadas.” (...) “... em todas as escolas e em todas as formas de educação, o ensino religioso deveria ser focalizado na espiritualidade, num sentido amplo, e ter como meta a paz, na sua pluridimensionalidade: paz interior, paz social, paz ambiental e, conseqüentemente, paz militar.”
...
“Conhecimento é o conjunto de meios para sobrevivência e transcendência gerados por indivíduos, coletivizados e acumulados no curso da história.”
Cultivar a imaginação é cultivar a capacidade de dar sentido e significado às coisas. A vida humana não é o transcorrer monótono de sua rotina; a vida humana é, sobretudo, a sublime inquietação de conhecer e de fazer.”
“Reduzir a importância da escola à preparação dos indivíduos para se integrarem no sistema de produção é de um primarismo inadmissível. Seria necessário reconhecer que a escola tem tido como objetivo maior moldar futuros consumidores de uma produção irresponsável e interesseira.”
“O problema fundamental é entender a relação entre o indivíduo e o seu comportamento, isto é, entre o ser (substantivo) e o ser (verbo).”
Leia a postagem completa de Nilton Bruno Tomelin:
http://niltonbrunotomelin.blogspot.com.br/2008/08/dambrsio-ubiratan-educao-para-uma.html

domingo, 2 de setembro de 2012

Ignorância política, o que a educação tem a ver com isso?

                        A fragmentação do conteúdo na educação “formal”, o desligamento entre as matérias, a falta de visão holística, faz do sistema educacional um trampolim para um mergulho sem preparo dos estudantes no sistema político. A política, que está presente na vida de todos, não é estimulada, pois a ignorância política faz parte do sistema educacional. O sistema de educação está para formatar seres humanos a agirem conforme o sistema político exige que ajam: que fiquem alheios às corrupções (roubos), chantagens, que se satisfaçam com os assistencialismos das “bolsas”, que acreditem que sim, a solução está na criação dos mercados que surgem a cada dia. É preciso manter mentes sob controle, a escola somente cumpre seu papel histórico e é a peça de ligação entre a necessidade de trabalhar e a necessidade do sistema que existam consumidores para os bens indutrializados.
                       Assim, o sistema político brasileiro conta com o investimento financeiro externo e nacional privados para a criação de empregos; isenta de taxas e até financia obras em prol do desenvolvimento. Resta impôr formas de regulação ao sistema educacional para que todos tenham empregos e não atrapalhem o sistema político-econômico. Dessa mesma forma investem em segurança, contra a violência dos “pobres”, marginalizados do sistema.
                     O retrocesso deste des-envolvimento está em acreditar que o Governo é o Estado. E isto não se pode aprender, nem ensinar. Sociologia, história, filosofia, são matérias perigosas, e cada vez mais podadas. Aliás, são matérias que se completam, deveriam estas três ser obrigatórias, ou melhor, exigidas por quem estuda e quem ensina!
                    O Governo são as pessoas eleitas pelo voto obrigatório e que deveriam representar os eleitores. O Estado é quem o Governo representa. O Estado hoje está nas mãos do capital especulativo; empresas transnacionais, privadas, que recebem apoio do Governo, dos bancos nacionais (BNDES) para ampliação dos seus negócios. O negócio, no caso, é a hipnose para o consumo. O consumo mantém a economia, por isso se criam mercados. O mercado do material reciclável é um exemplo. Primeiro as empresas extraem do ambiente a matéria-prima, criam o lixo (embalagens, garrafas pet, caixinhas, potes...), causam degradação ambiental irreversível na extração, no beneficiamento; contaminam rios, terra, ar, e depois criam o mercado da reciclagem. Agora, como um pedido de “desculpas’ à natureza, e para criar um novo mercado (claro), dão uma porcentagem ínfima dos seus “lucros” para que, em outro lugar, outro bioma, a área verde seja protegida – mercado verde. Apenas aprofunda-se o problema social e ambiental.

Por que se aceita tal situação? Alienação política! Consumimos o que não precisamos; em 50 anos estamos gerando um impacto ambiental maior que em toda a história da humanidade. Por que estudamos, adquirimos certificados, trabalhamos quase todo o tempo quando não estamos dormindo? Por que o ciclo não se rompe? Quando seremos nós o Estado? Até quando toleraremos um sistema educacional subserviente ao modelo econômico? Professores, o lema adequado ao problema educacional atual não seria “por uma emancipação da consciência política”?
Enquanto isso, o PNE – Plano Nacional de Educação (segundo a Revista Escola) no seu balanço feito quanto aos pontos positivos e negativos na última década de planejamento 2001-2010, aponta problemas em alcançar a erradicação do analfabetismo (são 14,5 milhões de analfabetos), em conter a evasão e a repetência, em ter vagas suficientes para crianças de até 3 (três!) anos, entre várias outras questões. O planejamento é para um exército moldado, que obedeça e cumpra o exigido (desde que nascem!). O Ideb (índice de Desenvolvimento do Ensino Básico) aponta o quão estamos aquém em todos os sentidos se considerarmos além da qualidade deste sistema, o que ele não proporciona: o prazer em aprender.
(por Mônica Gonçalves)

Sobre o ideb:
Sobre o PNE:

quarta-feira, 27 de junho de 2012

FREQUÊNCIA ESCOLAR OBRIGATÓRIA, um cabresto imposto para a prática social da passividade política

 um cabresto imposto para a prática social da passividade política com freio sabor morfina

            Com o objetivo de manter o controle, a educação dos indivíduos, das comunidades, de toda a sociedade, passou de mão em mão ao longo da história. Desde sempre a instrução foi dividida entre educação para “uns” e para “outros”. A obrigatoriedade à freqüência escolar foi necessária para conter a criatividade (própria do humano) e manter as diferenças sociais como algo “normal”. (diversidade cultural é diferente de diferenças sociais)
            A economia atual, que permeia a sociedade humana e envolve toda a biodiversidade do planeta, não é a única forma de nos relacionarmos com o ambiente. Surgiram máquinas que são controladas por humanos, mas, principalmente, que fizeram do humano a própria máquina. A mecanização industrializou os sentimentos humanos e limitou o caminho para a criação. O processo acontece pela repetição, em todos os lugares; se fixa em nós como prioridade (por ser cômodo, não é necessário pensar, refletir, agimos “instintivamente”); obriga, sem ordenar; seleta, submete, oprime. O foco dos holofotes está direcionado para o “eu”. Televisão, rádios, jornais, cartazes,... , nas ruas, em casa,... , na escola. Todos impulsionam os sentimentos individuais para muito aquém do coletivo. Todos aqueles (meios de comunicação) nos fazem matar um pouco (ou muito) do coletivo para alcançar o “desejado” individualmente, para “satisfazer” o eu.
Esse sistema está desequilibrado em relação ao ambiente. Fazemos parte do sistema, estamos todos contribuindo para esta realidade; estamos desatentos à possibilidade de que, se quisermos, podemos tirar o cabresto.
 O ato de ensinar tornou-se mecânico, acontece de fora para dentro. O sistema econômico capitalista determina o limite da nossa capacidade de agir e pensar coletivamente. Os governos obedecem ao modelo econômico seletor, impõe ao modelo educacional a obediência e a reverência à concorrência e a desvalorização do coletivo biodiverso do ambiente (entende-se aí ‘ambiente global’). Junto com a mídia, os governos controlam @s professor@s, determinando conteúdos, métodos e técnicas. É para ninguém aprender a ler o mundo, a visão do indivíduo alcança o umbigo e o problema educacional fica resumido aos salários defasados e à má estruturação da escola. Se educação, aprendizagem, acontece durante todo o período da vida do ser humano, por que educação virou sinônimo de escola? Educação é escola? Por que não está na pauta das reinvidicações o próprio sistema educacional?
Os parâmetros educacionais são a continuação do controle. Modelo econômico => governos => escolas => modelo econômico. Mão de obra obediente, determinação sobre quem explorar e onde, impossibilitar qualquer forma de economia independente, urbanizar a sociedade (atualmente, segundo IBGE 2006, 19% da população brasileira está residindo na zona rural, e o êxodo continua), e para tudo isso, os meios de comunicação (novelas, músicas, jornais alienantes) cumprem um importante papel: manter as mentes sob controle, ou seja, estagnadas para o coletivo e ativas para o individual.
A economia dita a regra, a escola concorda, seleta, formata.

Se a escola fosse benéfica à sociedade, por que haveria de ser obrigatória?
Que finalidade tem a obrigatoriedade à freqüência escolar?
 Isto é uma ação consciente? 
É somente por necessidade econômica?

Onde estão os valores humanos neste contexto?
(Mônica Gonçalves, Herval/RS/BR)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA DA ALIENAÇÃO CULTURAL


Um processo histórico de paralisia da consciência humana – o domínio do invisível
evidente e profundo relacionamento entre educação e alienação

unindo pontos



“- Manhêêê!! Me ajuda nesse trabalho da escola? Olha só: qual é a diferença entre o ser humano e uma ameba?

 - Ora, ora... Muito fácil! O ser humano é o único animal capaz de pensar, o único que têm inteligência; já a ameba é um ser tão pequeno que só dá pra gente ver usando um microscópio.

- Hummm...”

“Basta recordar a cibernética, para a qual um organismo inteligente é aquele que reage adequadamente aos estímulos do ambiente (homeostase), fazendo as escolhas corretas.
Uma ameba, ao ser colocada frente a uma poeira, uma partícula de veneno e uma partícula de alimento, ignora a poeira, evita o veneno e assimila, ingere o alimento.

(...)uma população exposta a subliminaridades, teleguiada, que se veste, comporta-se, consome produtos, serviços, crenças, religiões, ideologias e vota em eleições levada por sugestões externas, subliminares, não pode ser considerada uma forma de vida inteligente, autônoma.” (Flávio Callazans¹)

Quem somos, afinal; o que fazemos, por quê?

“Uma coisa são as estruturas sociais (leia-se uma ordem econômica e política realizada na história e como um tipo de sociedade) que atuam diretamente sobre a nossa existência. Que nos fazem, individual e coletivamente, sermos como somos, sentirmos e pensarmos como pensamos e sentimos, agirmos como agimos dia a dia, na experiência concreta e interativa da vida cotidiana com que se entretecem os infinitos fios da própria história de uma pessoa, de uma família, de uma comunidade, de toda uma sociedade, de um povo inteiro, de uma época. Uma coisa são as estruturas e processos que nos fazem ser “assim” como acabando “sendo”.
Outra coisa é o que nós fazemos com aquilo que nos faz sermos assim como somos, e vivermos como vivemos. É o que somos capazes de refletir e decifrar a respeito das estruturas e dos processos sociais que geram ao longo de uma história um modelo de sociedade e de vida social cotidiana. É quando nós descobrimos que, o que é apresentado como “é assim porque sempre foi assim”; “é desta maneira porque não poderia ser de outra”; “é como é porque é a vontade de Deus”, na verdade é uma criação social de pessoas, de grupos de interesse, de agências e de instâncias de uma forma de poder. “Poder”, “economia”, “sociedade” criadas por pessoas na história.” (Carlos Rodrigues Brandão²)

A cultura padronizada, criada pela economia global e sustentada pelo modelo educacional (que é obrigatório a todos) é formulado para direcionar nosso inconsciente ao consumo. Cultura da concorrência, do individualismo, quando um mendigo deitado no chão é tratado como uma praga, ou simplesmente ignorado, como um poste, um orelhão... uma vitrine é mais atraente.

Subliminaridades criam vontades, gostos, necessidades, sentimentos, em alguns segundos, repetidos e firmados de inúmeras formas. Nossa psique é invadida e nos saqueiam os sentimentos que impossibilitam nossa vida em sociedade no ambiente.
A mecanização da educação institucionalizada está como normal. Diferente está a educação humanizadora; “(...) jamais pode ser ela sequer pensada isoladamente ou reduzida a um conjunto de técnicas e métodos. Isto não significada que métodos e técnicas não sejam importantes. Significa que aqueles e estes estão a serviço de objetivos contidos no projeto cultural que por sua vez, se encontra envolvido e envolvendo os objetivos políticos e econômicos do modelo de sociedade...” (Paulo Freire³)

¹ CALAZZANS, Flávio Mário de Alcântara; Propaganda Subliminar Multimídia; São Pulo; Summus, 1992 (Novas Buscas em Comunicação; v. 42)

² BRANDÃO, Carlos Rodrigues; Semana pedagógica Paulo Freire – Caderno Pedagógico 2; publicação da Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul, agosto de 2001

³ FREIRE, Paulo; Cartas à Guiné-Bissau – Registros de uma experiência em processo; Editora Paz e Terra, 4ª edição

quinta-feira, 24 de maio de 2012

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO, UM PRIVILÉGIO PARA URBANOS


Car@s leitor@s,

A fim de esclarecimento, notifico a tod@s que não sou mais acadêmica do curso EaD Licenciatura Educação do Campo (pelo menos esta é a informação que chegou @s colegas do curso em uma aula presencial, que eu teria "desistido" do curso).

Abaixo cito os motivos, (motivos os quais também me levaram a pesquisar os textos elaborados anteriormente neste blog). Informo que:

·        *  NÃO é verdade que eu desisti do curso;

·       * o curso EAD Licenciatura em Educação DO CAMPO não é direcionado a quem mora no campo; o propósito é preparar (de acordo os marcos regulatórios determinados pelo governo/laranja) pessoas que estejam dispostas a lecionar no meio rural. Desta forma o conteúdo estudado sobre CONHECER A REALIDADE DO EDUCANDO somente refere-se às crianças do ensino fundamental (talvez do ensino médio), não a acadêmicos. Ou as aulas não seriam numa terça-feira à noite, quando não há possibilidade de acesso ao Pólo, pois aqui onde moro, no CAMPO, o ônibus passa na segunda, na quarta (3 vezes por mês) e na sexta-feira, de DIA;

·      *   não há vontade política do poder PÚBLICO em transportar acadêmicos, visto que o transporte escolar que leva alunos aqui do interior do município para cursar o ensino médio à noite não há espaço para acadêmicos e não passa por esta estrada;

·       *   vislumbro a contradição entre o conteúdo estudado e a realidade vivida por aqui, e falar sobre isto não é o objetivo da universidade, que não é para todos. Como assistir às aulas OBRIGATÓRIAS? Como falar que eu desisti do curso (como foi informado @s colegas do curso, na aula presencial)? O curso é que não dá possibilidade de poder ter acadêmicos rurais;

·      *   desde o início do curso envio ofícios ao colegiado informando sobre a impossibilidade de participar das aulas presenciais (dias e turno incompatíveis com a realidade do campo, necessidades específicas deste lugar), o que não possibilitou a compreensão da realidade do campo por parte da coordenação do curso, para dar viabilidade às aulas, que são obrigatórias.

A realidade urbana, a cultura urbanizada é a dominante, inclusive no meio rural. Portanto, se faz necessário a valorização e o cultivo de outra cultura, que não sejam de exploração. Explora-se, neste modelo de sociedade, o ambiente, os trabalhos físicos e mentais humanos e nem é possível afirmar que alguém saia lucrando, pois as degradações afetam a todos.
Desta forma, o caminho da educação completamente institucionalizada, como a que se vê nos dias atuais, além de não evitar a violência pela extrema desvalorização da vida e direcionamento ao mercado de trabalho (que alimentam a engrenagem industrial do retrocesso do desenvolvimento humano pela destruição ambiental – menos natureza, menos vida), ficam todos mais distantes das famílias (a educação - em turno integral, por muitas vezes - nas mãos do Estado e da mídia).
É urgente e necessário que tomemos consciência sobre outras formas de educação, de trabalho, de economia, enfim, outra(s) forma(s) de sociedade (compreender o global, agir no local). Essa valorização da vida depende das nossas ações. É momento de agir. 
(Mônica de Medeiros Gonçalves, permacultora, Assentamento Tamoios/Herval/RS/BR)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

UNIVERSIDADE, UM PRIVILÉGIO? “POIS É, JOÃO”... ESCONDE A MÃO E O PÉ...

Buscar a memória é, sem sombra de dúvidas, tirar as vendas e perceber que não precisamos de guias. Dançar conforme a música, dito popular falado comumente como tantos outros, que nos privam o raciocínio, faz refletir... E se a música não for boa? E se for uma música que ofende nossos ouvidos, nossa integridade física e mental, somos obrigados a dançá-la? Temos que nos comportar como marionetes para sustentar a dança imposta que nos privam refletir sobre tantos outros ritmos que existem na nossa cultura de vasta diversidade?
Afinal, que música é esta, de onde veio, por que tem que ser esta, quem impôs esse ritmo?
Aos que se aderiram ao "gosto" alheio, ou gostam do ritmo, ou da letra; ou, não conhecem sua própria história, ou, não se percebem na história... Será que não há mais audição? 
"João, cadê o chão? João, que privilégio estar contigo..."


“ (...) Quando nos voltamos para a história da universidade, para o seu passado, o objetivo é sempre a compreensão do presente. Mesmo no historiador profissional, que almeja uma visão a mais objetiva possível do passado, descomprometida com qualquer outra meta além do conhecimento, a atualidade, sendo sempre o lugar de onde fala e a partir de onde se dirige ao passado, não pode deixar de aparecer como critério orientador e, mesmo, de termo de medida da compreensão que se pretende alcançar. Isso está presente em todos os estudos sobre a universidade, desde os historicamente mais abrangentes até os mais pontuais, e a causa disso é simplesmente a impossibilidade de nos desligarmos do nosso presente. Ora, para considerar todas as conseqüências dessa impossibilidade, é importante compreender o presente como o estágio transitório entre a carga do passado e a expectativa do futuro. Assim, a valorização do presente coincide, queiramos ou não, com a sua extrema relatividade. E isso pela mera razão de que os indivíduos e as instituições são produtos históricos envolvidos no processo de construção de outros produtos históricos. Se essa transitoriedade histórica nos constitui e constitui tudo que fazemos, a precaução elementar, tantas vezes repetida, é a de evitar a consideração do que somos e do que fazemos, de nossas ações e de seus resultados, como absoluto. Sendo a produção histórica de nós mesmos e de nossas instituições um processo, não cabe entendê-la como natural e inevitavelmente dada.(...)

 (...) não há nada mais comum do que confundir, nas análises que se fazem da universidade, processo histórico e natureza dada, transitoriedade do tempo e natureza essencial da instituição. Isso não significa propriamente ignorar a relatividade histórica da universidade tal como a temos; todos provavelmente concordariam que ela é um produto histórico. Mas o que se deixa de relativizar é o percurso histórico que levou a um determinado perfil assumido pela instituição. Esse, principalmente nos tempos atuais, é visto em suas linhas gerais como inevitável, natural e necessário. E assim, esbarramos na contradição existente entre a consideração de um processo histórico contingente e o advento de instituições e de organizações que necessariamente devem ser como são. E isso muitas vezes leva a confundir a idéia de universidade vigente com a idéia própria de universidade.(...)

(...) Certamente é uma contradição entender que o progresso consiste na manutenção e aprofundamento do que já existe. Mas assim como os fundadores da modernidade não puderam ver as oposições e as contradições internas ao passado histórico, assim também nós, que fazemos a experiência da modernidade como enaltecimento do presente, não podemos – e não queremos – ver as oposições e as contradições internas à nossa experiência. (...) Crer no progresso e utilizá-lo como justificativa é uma estratégia para viver o presente e projetar o futuro com relativa segurança, pelo menos até que tenhamos de enfrentar o desmentido do progresso por parte dos próprios fatos que acreditávamos engendrados por ele.(...)

(...) A tentativa de criação, que passa por inumeráveis contradições, de um modo novo de construir o saber e os critérios de conduta social e histórica. E na realização dessa tarefa, o confronto com a tradição, com o presente, com o poder, com as outras instituições e com todas as injunções e contingências que pesam sobre a teoria e a prática. (...)

(...) Por isso, não podemos partir de uma realidade dada, cuja própria consolidação já apontaria os caminhos do futuro, em inelutável continuidade com o presente. Essa aceitação significaria trair algo que está no próprio núcleo do trabalho universitário: se não colocamos a própria universidade em questão, que sentido teria colocar em questão qualquer outra coisa a partir da universidade, isto é, a partir de uma certa inserção histórica e cultural que se expressa numa determinada maneira de investigar, de criticar, de conhecer e mesmo de propor condutas? (...)

(...) O que a universidade menos procura é redefinir-se; busca, isso sim, o meio mais adequado de aplicar a si mesma uma definição construída pelo tempo histórico e por um conjunto de idéias que se constitui pela exclusão de tudo aquilo que a universidade já instituiu e preservou como valor, ao longo de sua história. O procedimento pelo qual a universidade se redefine contemporaneamente coincide inteiramente com a sua adaptação às exigências do tempo histórico: mercado, tecnociência, organização eficaz e tecnicismo produtivista. A partir dessa pauta imposta de fora, a universidade busca refazer a sua identidade através de um processo de desinstitucionalização. Tudo o que a universidade precisa fazer é recusar o que tem sido para tornar-se o que o tempo histórico lhe impõe como um dever-ser. Nesse processo de desinstitucionalização se inscrevem vários fenômenos imediatamente presentes, tais como heteronomia (absorção de critérios extrínsecos como paradigmas do modo de ser, da organização e da gestão da universidade), a privatização (assimilação dos mecanismos neoliberais de destruição da esfera pública) e subordinação ao mercado (entronização de critérios ligados ao tecnocratismo economicista). Tais exemplos configuram o quadro da adaptação, que seria ao mesmo tempo o abandono do perfil institucional em prol do perfil organizacional. (...)


Franklin Leopoldo e Silva é professor titular do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo. @ – franklin@usp.br 
Conferência feita pelo autor em 12 de abril de 2005 no Instituto de Estudos Avançados da USP, dentro da Temática Semestral "Os Desafios do Ensino Superior no Brasil", realizada de novembro de 2004 a abril de 2005.