A Educação
do Campo é resultado da ação da população civil organizada, não satisfeita com
as leis impostas pelo governo (LDB), onde determina a Educação como meio de
formação de mão-de-obra para o mercado de trabalho (nas indústrias, nas cidades); não contempla as
necessidades de quem vive no campo e proporciona um desmonte progressivo e
acentuado de valores que zelariam pela vida, além de dar novos significados as
palavras, como, por exemplo, felicidade, bom, ruim...
A entrevista
a seguir fala da realidade fundiária em Mato Grosso, e inicialmente, faz um panorama
nacional sobre a questão concentração de terras. No Brasil essa é uma realidade
comum, historicamente traçada pelos detentores do capital. A partir da
manifestação sobre seus direitos, a população organizou-se e deu início ao
processo de implementação na Educação (ver I e II Conferência Nacional por uma
Educação Básica do Campo). É um processo que está em construção, e a realidade
vivida pelos mato-grossenses nos faz compreender melhor o que acontece por
aqui, na metade sul do Rio Grande do Sul. Concentração fundiária, trabalho
escravo, alienação política, direitos trabalhistas ignorados pelo próprio poder
judiciário. Esta realidade se perpetuará enquanto nós, como seres políticos,
não exercermos nossos direitos de manifestar nossos anseios, cobrar nossos
direitos, exercer a “cidadania” como dever em prol do todo ao qual fazemos
parte (rede econômica, ecológica, social – local, regional, global).
Visto isso,
informemo-nos sobre a história; conhecendo nossa história, entendemos o
presente e podemos agir a favor de um futuro sem desigualdades, onde os
direitos sejam realmente iguais para todos, onde a demagogia não tenha lugar de
descaque, como ocorre nos dias atuais.
Esta é uma entrevista especial feita por Dirlei Perin, (de Juara, Mato Grosso, professor Formador do CEFAPRO de Juara/MT em Educação do Campo) com Inácio Werner, graduado em
Ciências Sociais pelas Faculdades Integradas Cândido Rondon – Unirondon e
especialista em Movimentos Sociais, Organizações Populares e Democracia
Participativa pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Foi Agente de
Pastoral da Paróquia do Rosário e São Benedito, e posteriormente da Comissão
Pastoral da Terra – CPT. Atualmente, é coordenador do projeto Rede de
intervenção social do Centro Burnier Fé e Justiça, com sede em Cuiabá. Atua na
luta pela erradicação do trabalho escravo, coordena o Fórum de Erradicação do
Trabalho Escravo e participa da Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho
Escravo – Coetrae e do Conselho Gestor do Fundo de Erradicação do Trabalho
Escravo – Cegefete. Integra ainda a coordenação do Fórum Mato-grossense de Meio
Ambiente e Desenvolvimento.
“A concentração de terras traz um reflexo direto para a agricultura
familiar. Enquanto a média nacional de apropriação é de 33,92% dos recursos, em
Mato Grosso esta fatia cai para 6,86%", aponta o coordenador do Fórum
Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento.
A concentração desequilibrada de terras está na raiz da história
brasileira. O antigo latifúndio, responsável pelas extensas propriedades
rurais, “se renovou e hoje gerencia um moderno sistema chamado agronegócio”, constata Inácio Werner, em entrevista concedida
à IHU On-Line por e-mail. Segundo ele, apenas no Mato Grosso, um dos principais
polos do agronegócio no país, a má distribuição da terra é evidente e tem se
tornado uma das principais causas de conflitos sociais. No total, “3,35% dos
estabelecimentos, todos acima de 2.500 hectares, detém 61,57% das terras. Na
outra ponta, 68,55% dos estabelecimentos, todos até 100 hectares, somente ficam
com 5,53% das terras”.
Nos últimos 10 anos, 114 pessoas foram ameaçadas e
seis foram assassinadas por combater o monopólio do campo. Na avaliação do
sociólogo, o Estado não dispõe de uma política pública eficiente de proteção às
vítimas porque é “forçado a tomar posição e enfrentar aliados”.
Na
entrevista a seguir, Werner também comenta a estrutura política do Mato Grosso
e fala das articulações entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o
ex-governador, Blairo Maggi (PR), que está na “linha de frente do modelo do
agronegócio”.
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