quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

EDUCADORES, o que estamos fazendo?


REFLETINDO A CULTURA
QUE PARADIGMA É ESTE?

A escola como elo do novo

A cultura, como conjunto de hábitos praticados no cotidiano da vida humana, interfere decisivamente na forma do pensar individual e coletivo, considerando a reflexão pensar / agir; primeiro idealizamos a ação, depois mobilizamos nosso corpo para executar a ação planejada.
O pensar, inicialmente, está relacionado ao que é vital para a vida; nos alimentar, lugar onde moramos, nossas vestimentas, as relações humanas. Porém, antes disso há a “formação” estipulada pelos meios de comunicação de massa (programas de televisão, de rádio, revistas, jornais, panfletos, cores, sons), que determinam o que temos que fazer para poder viver nesse modelo imposto à sociedade humana global. Não há o questionamento “por que faço ‘isso’?” Há o questionamento “quanto vou receber por fazer isso?”, ou, “o que vou ganhar por fazer isso?”
A reflexão das nossas ações cotidianas interfere no ambiente local e alimenta o sistema global de escravização do pensar. Não se admite o diferente e a economia global “algema” os outros aspectos vividos por todos - ecológico, social/político.
Quando entramos na escola estamos pré-moldados pela nossa família e suas prioridades de “se dar bem”, sem considerar o “estar bem” consigo e com o ambiente no qual estamos inseridos.

QUAL A NOSSA RELAÇÃO COM O AMBIENTE?
QUE PARADIGMAS TEMOS QUE SUPERAR?

Levando ainda em consideração o professor como o ‘mestre’ enquanto estamos sob seus cuidados, poderia ser considerado o primeiro contato (principalmente no meio rural) entre a família (o educando) e a forma atual da sociedade, sendo este o momento de firmação das leis que regem o sistema (voltado para o trabalho e, conseqüentemente, para o consumo). Considerando ainda a forma de agir do “mestre”, já moldado pelo sistema, temos aí um reprodutor de regras. Esta ação do reproduzir reprime a capacidade de criação/recriação de cada indivíduo, estimula o padrão e firma o “pensar diferente” como algo “anormal” (firma o pré conceito). Anula a capacidade política individual impossibilitando a interpretação da vida dos educandos pelos educandos; o lema é reproduzir as leis tal qual elas estão redigidas na constituição, impedindo o “por que?”, que poria em xeque inclusive o educador.
Dessa forma a Educação do Campo, que é resultado de uma política social formulada a partir da Lei de Diretrizes de Base (política pública), não supre as necessidades inicialmente reivindicadas pelas organizações da sociedade civil, mobilizadas para que a educação do meio rural fosse direcionada ao rural, à fixação do povo no campo (quilombolas, indígenas, assentados, ribeirinhos,...). Dentre tantos itens das Diretrizes Operacionais Específicas para as escolas do campo, pouco é colocado em prática; não há o trabalho com a realidade dos educandos, não há relação da vida rural com o ano letivo (épocas de plantio, colheita, ...), não há a valorização do campo, nem das coisas do campo, nem das relações humanas, como acontece rotineiramente nas cidades.
Visto isso, considera-se a universidade como reprodutora do sistema de vida humana, que prepara profissionais, “formando” cada indivíduo para a reprodução dos paradigmas culturais já estabelecidos, sem a utilização do pensar, mas a ação mecânica do agir em troca do “quanto vou receber por ‘isso’?”. Dizem ainda (os professores) que recebem pouco. Ora, para um trabalho mecânico as reivindicações tornam-se nulas; estudou-se para reproduzir o ensinar, sem ter aprendido o ensinar. Porém, além disso, nos dias atuais que todos da família trabalham e estão ausentes do cotidiano vivido pelos seus filhos, resta ao educador ser ditador, como o sistema atual da vida social ditam a cada outdoor, a cada capítulo da novela, a cada símbolo visualizado em fração de segundos nos filmes,caixas eletrônicos, novelas.
O diferencial da Educação comum e da Educação do campo é que a primeira é uma ordem do governo (de 1996), que sem consulta pública, elaborou a LDB educacional como o sistema econômico determinou como regra, para geração de empregos e renda (ter renda para o consumo), que é a política “pública”. Em nenhum momento considerou-se o ambiente como ponto de partida, a visão foi (e é) antropocêntrica; o importante para o sistema de vida praticado nos dias atuais é o “eu” (concorrência), impedindo que se visualize o ambiente no qual estamos e as conseqüências geradas a partir das nossas ações “culturais”.
A maioria esmagadora dos estudantes de Educação do Campo mora na cidade e acredita que a educação tem que preparar o educando para o trabalho, porém, há uma contradição evidente: se temos que preparar os educandos para o trabalho e o trabalho está na cidade, como valorizar o campo tendo educadores que não vivem a realidade rural? Como podem estes, que não têm consciência política dos seus atos, valorizar o que eles não conhecem e vulgarizam, utilizando nos detalhes de suas idéias (reprodução do subliminar), o menosprezo ao que não é parecido com a cidade? Como eles podem valorizar o que é negado no inconsciente coletivo e dado como rota certa aos que ali estão, ir para as cidades em busca de “uma vida melhor”, para “serem felizes” porque no campo “não tem futuro promissor”, passam trabalho e recebem pouco,...

As políticas sociais não são nada mais que políticas elaboradas pelo governo a partir da necessidade da sociedade civil, da reivindicação da sociedade civil. O governo supre algumas necessidades, mas não modificam a essência que alicerça o sistema vigente de valorização do “ter”, ao invés do “ser” (o mesmo que ocorre com a Reforma Agrária, que não passa de uma distribuição de terras para produção de bens de consumo; não há a valorização da terra, há a exploração inconsciente da terra para “quanto vou ganhar com isso?”, quanto mais ganhar, melhor, não importa a forma). Assim, a política social para a educação está alicerçada na formação de mão de obra, principalmente nos territórios tradicionalmente ocupados (que é o caso dos assentamentos), onde é uma população não originária daquele território; essa ação torna a terra mercadoria e culturalmente esta é uma ação “normal”....

É possível verificar que para acontecer algo de definitivo na educação se faz necessário que seja outra forma de política, onde haja a particição. Para a participação política da população, a política econômica tem que ser outra. Para a modificação da política econômica, a educação pode ser um braço, quando esta teria como meta de trabalho a ligação com a comunidade escolar, a educação do campo é um exemplo de uma política social que não é posta em prática pelo fator social e econômico; cultura da exclusão, definição do que é "melhor", ou "pior"; ou "ser feliz", ou "infeliz".
Para dar o significado às palavras, precisamos pôr em prática o que elas significam, ou teríamos que "deletar" palavras e criar outras??!
(por Mônica Gonçalves, assentada, acadêmica do curso EAD Licenciatura em Educação do Campo, UFPel/RS)

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